Eminentes naturalistas do mundo, como Charles Darwin, vislumbram grandiosas verdades, levando a efeito preciosos estudos, os quais, aliás, se prejudicaram pelo excessivo apego à ciência terrena, que se modifica e se transforma, com os próprios homens; e, dentro das minhas experiências, posso afirmar, sem laivos de dogmatismo, que, oriundos na flora microbiana, em séculos remotíssimos, não poderemos precisar onde se encontra o acume das espécies ou da escala dos seres, no pentagrama universal. E, como o objetivo dessa palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores, sinto-me à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu acanhado círculo evolutivo. São eles os nossos parentes próximos, apesar da teimosia de quantos persistem em que o não reconhecer.
Considera-se, às vezes, como a afronta ao gênero humano a aceitação dessas verdades. E pergunta-se como poderíamos admitir um princípio espiritual nas arremetidas furiosas das feras indomesticadas, ou como poderíamos crer na existência de um raio de luz divina na serpente venenosa ou na astúcia traiçoeira do carnívoros. Semelhantes inquirições, contudo, são filhas de entendimento pouco artilado. Atualmente, precisamos modificar todos nossos conceitos há cerca de Deus, porquanto nos falece autoridade para defini-lo ou individualizá-lo. Deus existe. Eis a nossa luminosa afirmação, sem poder, todavia, classificá-lo em sua essência. Os que nos interpelam por essa forma, olvidam as histórias de calúnias, de homicídios, no seio das perversidades humanas. Para que o homem se conservasse nessa posição especial de perfectibilidade única, deveria apresentar todos os característicos de uma entidade irrepreensível, dentro do orbe onde foi chamado a viver. Tal não se verifica e, diariamente, comentais os dramas dolorosos da humanidade, os assassínios, os infanticídios nefandos, efetuados em circunstâncias nas quais, muitas vezes, as faculdades imperfeitas dos irracionais agiriam com maior benignidade e clemência, dando testemunho de melhor conhecimento das leis de amor que regem o mecanismo do mundo.
ALMA DOS ANIMAIS
Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos do homem, merecendo, por isso, a sua proteção e amparo.
Seria difícil ao médico legista determinar nas manchas de sangue, qual o que pertence ao homem ou ao animal, tal a identidade dos elementos que o compõem. A organização óssea de ambos é quase a mesma, variando apenas na sua conformação e observando-se diminuta diferença nas vértebras.
O homem está para o animal, simplesmente como um superior hierárquico.
Nos irracionais desenvolvem-se igualmente as faculdades intelectuais. O sentimento de curiosidade é, na maioria das vezes, altamente avançado e muitas espécies nos demonstram as suas elevadas qualidades, exemplificando o amor conjugal, o sentimento de paternidade, o amparo ao próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza. Para verificar a existência desses fenômenos, basta que se possua um sentimento acurado de observação e de análise.
Inúmeros espíritos trouxeram à luz o fruto de suas pacientes indagações,que são para nós elementos de inegável valor. Entre muitos, citaremos Darwin, Gratiolet e vários outros estudiosos dedicados a esses notáveis problemas.
Os mais ferozes animais têm para controle ilimitada ternura. Aves existem que se deixam matar, quando não se lhes permite a defesa das suas famílias. Os cães, os cavalos, os macacos, os elefantes deixam entrever apreciáveis qualidades de inteligência. É conhecido o caso dos cavalos de um regimento que mastigavam o feno para um de seus companheiros, inutilizado e enfermo. Conta-se que uma fêmea de cinocéfalo, muito conhecida pela sua mansidão, gostava de recolher os macaquinhos, os gatos e os cães, dos quais cuidava com desvelado carinho; certo dia, um gato revoltou-se contra sua benfeitora, arranhando-lhe o rosto, e a mãe adotiva, revelando a mais refletida inteligência, examinou-lhe as patas, cortandolhe as unhas pontiagudas com os dentes. Constitui um fato observável a sensibilidade dos cães e dos cavalos ao elogio e às reprimendas.
Longe iríamos com as citações. O que podemos assegurar é que, sobre os mundos, laboratórios da vida no Universo, todas as forças naturais contribuem para o nascimento do ser.
Extraído do livro ,
Federação Espírita Brasileira, 19ª edição, 1998, pg. 95 a 97.
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