Apae de Piracicaba adota Terapia Assistida por Animais (TAA) para 60 alunos de 7 a 40 anos
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Eles escovam os cãezinhos, os alimentam e os conduzem em curtos passeios. A cada toque nos animais, descobrem sensações, liberaram a emoção e aprendem, pela comparação, os cuidados que precisam ter com seus próprios corpos, ou simplesmente conseguem vencer os obstáculos para estampar um sorriso surpreendente. Portadores de deficiências mental ou múltipla da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Piracicaba são auxiliados por três terapeutas especiais, Baby, Cuca e Mussum, a superar dificuldades.
Baby é uma cachorra sem raça definida, Cuca é uma cadela shihtzu e Mussum é um cão pug, que passaram por vários testes com adestrador para serem utilizados em Terapia Assistida por Animais (TAA). O ineditismo e bons resultados da ação garantiram à Apae inscrição e seleção no I Congresso Brasileiro de Atividade, Educação e Terapia Assistida por Animais, que acontece sábado (14) e domingo (15), em São Paulo.
Mais de 40 trabalhos de todo o Brasil foram enviados e apenas 13 foram selecionados para fazer a apresentação. Dóceis e obedientes. os três cães têm atestado de saúde, são controlados e acompanhados pelos seus donos durante a terapia que foi implantada na Apae de Piracicaba, por iniciativa da fisioterapeuta Heluiza Fioravanti Lovatto Fávaro.
Há um ano e meio, divididos em três grupos, cerca de 60 alunos da Apae, da faixa etária de 7 a 40 anos. vivem os benefícios proporcionados pelos exercícios de TAA. A terapia acontece uma vez por mês para cada grupo de alunos,
A TAA é utilizada em países de primeiro mundo desde a década de 70 e tem o reconhecimento internacional da Delta Society e, nacionalmente, da Organização Brasileira de Interação Homem-Animal Cão Coração (OBIHACC).
Resultados
Os "terapeutas" voluntários, como a cachorrinha Baby - encontrada na rua abandonada e debilitada, recuperada pelo amor de sua dona - ajudam a aumentar ou manter a capacidade motora, o equilíbrio, a motivação em realizar exercícios, além de promover melhora da socialização, diminuição da ansiedade, estimular a concentração, melhorar a auto-estima, entre outros da terapia.
Segundo a fisioterapeuta Heluiza, responsável pela TAA na Apae, a associação tem ao todo 230 alunos, mas por limitações no número de cães especiais para esse tipo de terapia, cerca de 60 participam. "Queremos incluir os alunos da educação precoce, a partir de três anos de idade", revela. Antes de implementar a terapia na Apae, Heluiza pesquisou sobre o assunto e se inteirou dos benef´ícios proporcionados. Apesar de saber das vantagens, a terapeuta admite ter ficado surpresa com os resultados alcançados em pouco tempo.
Um deles, conta Heluiza, é o de Pâmela, 7, portadora de síndrome de down, que tinha dificuldades para dar respostas orais e deixar de fazer necessidades fisiológicas na roupa, depois que parou de usar fraldas. Foi Baby quem auxilou Pâmela a dizer palavras "chaves", ainda que monossilábicas, mas capazes de traduzir sua aceitação ou rejeição aos estímulos.
Pâmela, como as demais crianças, é colocada para escovar o pêlo de Baby. Enquanto falava dos cuidados que a menina precisa ter com o cão, evitar que a escova atinja seus olhos e a estimular a responder quantos olhos o animal tem, a fisioterapeuta teve a idéia de comentar com a dona de Baby sobre o problema de evacuar na roupa. "Falei que a Baby não faz cocô e xixi em qualquer lugar e que a Pâmela esquece de pedir para fazer essas coisas. Ela prestou atenção. Terminou a terapia, ela saiu com a auxiliar de classe e pediu para ir ao banheiro", diz ao relatar a superação da aluna.
Cada aluno fica de cinco a oito minutos com o animal e os resultados da terapia, explica a fisioterapeuta, dependem de suas deficiências e limitações, mas podem ser alcançados de dois a três meses após o início da TAA. Os alunos são estimulados a fazer carinho e demonstrar afeto, o que facilita a desinibição.
Donavan, 9, portador de deficiências mental e física, cita Heluiza, é um dos alunos que conseguiu com a TAA deixar de ser retraído. Antes da terapia com o animal, conta a fisioterapeuta, o menino somente conversava com pessoas mais próximas de seu convívio. A partir do contato com o cão Mussum, ele tornou-se espontâneo e hoje, conversa com todos. "Ele é o primeiro a levantar a mão para querer escovar o Mussum. Quando conversa com os amigos e a quem estiver por perto, conta que no sítio onde mora também há cães e outros animais", destaca.
Alexandre, 15, que tem paralisia cerebral e não tem controle da coluna cervical, apresentou melhoras significativas depois que passou a ser estimulado com a TAA.Um dos avanços, revela Heluiza, é que o garoto consegue erguer a cabeça sozinho. Embora não se comunique oralmente, relata a fisioterapeuta, Alexandre responde positivamente, por meio de beijo e sorriso, e negativamente, mostrando a língua. Na terapia convencional e mesmo em casa, quando estimulado pelos familiares, o menino somente mostrava a língua. "Durante a TAA, ele não se cansa de mandar beijos, demonstrando felicidade e aceitação com a terapia", explica.
Para Heluiza, comportamentos como de Alexandre mostram que a TAA é capaz de superar até mesmo o cansaço que os portadores demonstram após anos terapia convencional. Muitos deles, argumenta a fisioterapeuta, fazem terapias desde que nasceram". Por mais que a gente mude as músicas e os processos na terapia convencional, eles acabam se cansando. E com os animais, há satisfação,eles conseguem relaxar por mais tempo e liberam suas emoções", afirma.