Moradores da região da Vila Clementino, na Zona Sul de São Paulo, receberam cartas anônimas com ameaças de morte contra seus cachorros, caso eles não sejam retirados de casa até 30 de janeiro. As correspondências, que foram colocadas nas caixas de correios, citam que os cães latem muito pela manhã, incomodando a vizinhança.
Os donos dos animais procuraram a Polícia Civil para denunciar. Nas mensagens, os próprios moradores também foram ameaçados. O G1 conversou com duas das vítimas, que registraram boletins de ocorrência na delegacia.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Civil investiga os casos. "A equipe de investigação realiza diligências para localizar imagens de câmeras de segurança e outros procedimentos de polícia judiciária para identificação da autoria", informa trecho do comunicado da pasta.
Uma das cartas diz: "Seu cachorro será morto, silenciosamente. (...) Somos profissionais e muito bem pagos pelo nosso trabalho. Tenha certeza que já realizamos trabalhos piores e nunca falhamos. Seu prazo e nosso trabalho são inegociáveis e irreversíveis".
O fim da mensagem (leia íntegra abaixo) traz o seguinte aviso: "Como prova de nosso profissionalismo deixaremos uma marca de tinta branca no seu carro. A próxima não será tinta nem branca".
Uma das vítimas ouvidas pelo G1 deu queixa de ameaça e dano depois de seu carro ter aparecido com manchas de tinta branca. A mulher, que pediu para não ser identificada, diz ter recebido uma carta em 13 de dezembro com uma ameaça: os quatro cachorros dela tinham de ser retirados do imóvel.
“Fui na garagem e vi que jogaram tinta branca no carro. Aí, vi que tinha uma carta na caixa de correios ameaçando matar meus cachorros se eu não me livrasse deles até a data que essa pessoa quer”, disse a moradora do bairro.
'É aterrorizante', diz dono de cachorra
Carro de mulher e calçada na frente da casa de professor de idiomas foram pintados com tinta branca, conforme está nas ameaças das cartas enviadas a eles para se livrarem de seus cães — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
A carta que chegou para ela é a mesma recebida pelo professor de idiomas Vitor.
“Estamos nos sentindo assustados. Nas primeiras noites, não conseguimos dormir. É aterrorizante, uma sensação de vulnerabilidade muito grande. Essa pessoa tem meu endereço”, disse Vitor.
Ele contou que viu um rastro de tinta branca na calçada em frente de casa (veja imagem acima). “Não conseguiram pintar meu carro”, falou o professor, que é dono de Sol, uma cadela de aproximadamente dez anos de idade.
Inconformado, Vitor resolveu postar a carta e a foto de sua cachorra nas redes sociais (veja abaixo).
“É importante essa denúncia. A gente não está mais anônimo. Esse agressor já sabe meu endereço, onde moro e quem sou. Quem está anônimo é o agressor”, falou o professor.
Vitor mora a cerca de 100 metros da outra mulher que também recebeu a mensagem. Nas ruas próximas, há outros moradores com cães, e muitos passeiam com os animais pelo bairro.
Vitor postou nas redes sociais a denúncia de que recebeu uma carta com ameaças de morte para sua cachorra Sol — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
O que dizem as cartas com ameaças
As cartas que Vitor e sua vizinha receberam estavam dentro de envelopes endereçados aos donos dos cães, mas não tinham os nomes dos moradores das casas. Com o campo do remetente em branco, o envelope tinha apenas o endereço de uma indústria perto de uma delegacia na Zona Sul da capital.
O teor das cartas é o mesmo: cobrava que os donos dos cachorros os levassem embora da Vila Clementino, porque os animais, segundo o texto, latem muito pelas manhãs.
As cartas foram digitadas e impressas. Têm uma mesma assinatura, feita à caneta.
Leia, abaixo, uma das correspondências:
“Ao dono do cachorro
Seu cachorro será morto, silenciosamente e em algum dia, a partir as [sic] 00:00 horas do dia 30/01/2021 caso você não siga rigorosamente a instrução abaixo:
Você tem o prazo até a data acima mencionada para colocar seu cachorro, ainda com vida, em outro lugar para viver. Desde que seja longe do bairro Planalto Paulista e daquela vizinhança.
Seu cachorro late, ha [sic] muito tempo, descontrolada e diuturnamente fora da normalidade de um convívio social. Perturbando portando em demasia, contundente, de forma anormal e recorrentemente uma vizinhança inteira de um bairro estritamente residencial. Onde moram pessoas e famílias com bebês, crianças, idosos, enfermos e trabalhadores que merecem e tem direitoao [sic] descanso e ao silêncio.
Fique ciente que este é seu único aviso. Somos profissionais e muito bem pagos pelo nosso trabalho. Tenha certeza que já realizamos trabalhos piores e nunca falhamos. Seu prazo e nosso trabalho são inegociáveis e irreversíveis.
Como prova de nosso profissionalismo deixaremos uma marca de tinta branca no seu carro. A próxima não será tinta nem branca.
Não entraremos mais em contato”.
Sem suspeitos
16º DP Vila Clementino, onde moradores registraram boletim de ocorrência após receberem cartas com ameaças — Foto: Reprodução/Google Maps
Tanto Vitor quanto sua vizinha disseram que nunca escutaram os latidos dos cães um do outro. Eles se conheceram na mesma delegacia onde registraram queixa após terem recebido as cartas.
Os dois não têm ideia de quem possa ter enviado as ameaças.
“Tenho quatro cachorros, mas só três ficam na frente de casa porque uma é mais velhinha. Mas, no tempo que moro na casa, nunca recebi reclamação de vizinhos por eventuais latidos dos cães”, falou a mulher.
Vitor afirmou: "Sol é uma vira-lata adotada. Estamos com ela desde 2012. No início, já tivemos reclamação pontual de vizinhos por causa de um latido ou outro. Mas isso parou. Ela late como qualquer cão normal. Não é direto. Late quando um cão passa na rua ou quando chega algum entregador. Então, não sabemos quem pode ter enviado as cartas com as ameaças".
Perto das residências há câmeras de segurança que podem ter gravado quem jogou a tinta branca na frente da casa de Vitor e no carro da vizinha.
Enquanto a polícia não encontra suspeitos pelos crimes, as vítimas preferem continuar com os cães dentro de suas casas, com medo de que possam ser mortos.
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